segunda-feira, 10 de setembro de 2007

A RAPAZIADA - por Ricardo Silvestrin, colunista do Segundo Caderno da Zero Hora, em 08/09/07

"Como dizia o filho do Gonzagão, o Gonzaguinha, "eu acredito é na rapaziada / que segue em frente e segura o rojão / como é que não?". Digo isso porque vejo surgirem vários eventos ligados à música e à poesia interessantes por aqui. E o melhor, pelo menos para mim: fui chamado a participar de vários deles. Um desses é o Clube dos Criadores. Acontece na sala Luís Cosme, na Casa de Cultura Mario Quintana.

Assisti à recente edição, sábado passado. Era um show do Julio Reny. O cenário foi montado como um bar, estilo country. Rola o show e, perto do final, há uma conversa do convidado com o público. Depois, canta mais um pouco. Foi assim também com o meu grupo, os poETs. Para o nosso, havia um artista que fazia trabalho em vinil. No rótulo, imagens de músicos famosos. No cenário, um ET que guardava uma surpresa debaixo do casaco: um vinil com uma foto nossa no centro.

Na hora da conversa, Julio contou a história da casa da Santana onde morava. Fez um estúdio na garagem, juntando um equipamento daqui, outro dali, colocando caixa de ovo como isolamento acústico. Quase todas as bandas legais do período, início dos anos 80, tinham uma segunda chave da casa. Iam para lá ensaiar. Nas festas, estavam no quarto tocando o TNT, na sala, o De Falla, na cozinha, a Expresso Oriente do Julio. Passavam por lá os Engenheiros, os Replicantes. Na época, o Julio fez sucesso com a música Cine Marabá. Um amigo carioca falou que por lá adoravam a música e, pelo sotaque, diziam, de brincadeira, que parecia o Brizola cantando rock.

Todas essas histórias contadas para o deleite da platéia. Ficava uma sensação de que hoje não existia mais isso de reunir todo mundo. Julio disse que, depois que as bandas fizeram contratos com as gravadoras, cada uma seguiu seu caminho, a casa ficou para trás. A admiração dos guris que fazem o projeto me lembra o poema do Drummond: "E eu não sabia que a minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé". Quando se está vivendo, não se tem a noção da força, da alegria, da beleza do que estamos fazendo. Parece que a história dos outros é que é legal. Mas daqui a alguns anos, que passam em silêncio, disfarçados, talvez o pessoal do Clube conte, para uma outra gurizada, que eles faziam por volta de 2007 um projeto em que convidavam os músicos que admiravam, rolava um bate-papo, criavam uma ambientação e tal. E a nova moçada vai dizer "oh, naquele tempo é que era legal". Pois eu, que já não cozinho na primeira fervura, grito: assistam ao Clube dos Criadores, não percam os saraus do Jornal Vaia, que acontecem no Bar Outros 500, na João Alfredo, as apresentações do Grupo Teia, as invenções do Paulo Scott. Enfim, desligue a Internet, o celular, a TV e vá pra rua, que é onde sempre esteve a rapaziada."

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